sábado, 10 de janeiro de 2009

Palestina ou Israel ? / Palestina or Israel ?

Palestina ou Israel?

®Lílian Maial

É um círculo vicioso, sempre a mesma ladainha, o mesmo choro contido, o ranço de outras épocas e antigas devastações.
Uns poucos e tantos insistindo na salvação da raça humana, na paz entre os povos, na saída para um mundo melhor, enquanto sabemos perfeitamente que é da natureza humana a destruição.

Desde priscas eras já conhecíamos a destruição, muitas vezes disfarçada de defesa e autopreservação.
O homem descobriu o veneno, a erva, o fogo, o ferro, o aço, a espada, a pólvora, a bomba, a indiferença.
A ciência avança, inventa a doença e a cura, aumenta a longevidade, enquanto crianças morrem de fome, apenas por ter nascido filho de pais que pensam diferente.
Onde é que já se viu? Fala-se em inserção social, em excluídos, porém dividimos o mundo em primeiro, segundo, terceiro...
Revoltamo-nos com as idéias arianas, ao mesmo tempo em que criticamos e menosprezamos as diferenças. Palestinos e Israelenses, que diferença eles têm? Será que a visão da dilaceração de um filho dói menos em algum deles?
Será que a perda de tudo o quanto cultivam nos lares tem importância menor para algum deles? E por que outros povos têm de tomar partido e municiar melhor um dos lados? O mundo inteiro carrega duas bandeiras inimigas? O que é tudo isso?

A querida amiga Rosa Pena ainda anseia pela volta dos girassóis.
O amigo poeta Nathan de Castro lamenta a morte da poesia de amanhã.
Já um outro amigo, delegado de polícia, apelidou a área de risco no entorno de sua delegacia como “Faixa de Gaza”, e é quando lembramos que temos Gaza também aqui, no Rio de Janeiro!

E eu? Eu que sempre fui tão alienadamente otimista, tão intensamente apaixonada por gente, tão solidária e defensora dos direitos e dos injustiçados, me vejo em meio a uma teia de destruição e espanto, de loucura e conformismo, de mudança que apenas maquia.

A Mãe Natureza já mostrou seu desprezo pelo homem.
O homem - que criou um deus à sua imagem e semelhança, que venera ídolos de purpurina, perdidos em seu próprio brilho, que abandona o semelhante para alcançar benesses.
O homem - que inventou o sorriso, a poesia, o amor e a eternidade, que usufruiu das endorfinas da paixão e do altruísmo, o mesmo homem que manufatura a desgraça, a dor e o desamor.

O homem deveria ser mulher. Deveria ser mãe, para saber a ausência de sentido da morte de um filho, seja por qual razão for.
O homem deveria parir seu ódio em dor, e talvez seja isso o que já vem fazendo, destilando peçonha extraída de almas poluídas de ambição, arrogância e razão. Eu sou o rei, sou o dono, sou o maior, o mais rico, o mais forte, o mais bonito, o mais-mais! E que se danem os infelizes inferiores!

Estou por aqui com a Natureza, esta, sim, menina perversa, que permite que sua criação destrua o que ela mesma cria!

Talvez seja tudo uma grande piada. O mundo é uma piada. A vida é uma piada. Se pensarmos bem, viemos todos do nada e vamos para lugar nenhum, e o que fazemos ou deixamos de fazer pouco importa a quem quer que seja.
É assim, sempre foi assim e sempre será. E enquanto aguardamos o nosso desaparecimento, temos a opção de construirmos uma vida em conjunto, ou destruirmos o que não nos interessa.
E começam as intrigas, as diferenças, as lutas, as guerras, as mortes, as lágrimas.

Como disse o Nathan: “Não sei mais o que dizer... Ninguém escuta”.

A mãe que lamenta seu filho é a mesma que apedreja os filhos da vizinha.
O filho que mata outro filho, que fará chorar outra mãe que, de ódio, incita outros filhos a vingarem o seu. Parece conhecido? E é. Isso remonta ao início dos tempos, e nunca acabará. Mata-se por ganância, por dinheiro, por inveja, por despeito, por deus. Por Deus!

“Ama o próximo como a ti mesmo”. Será isto?
Será que não nos amamos e, no fundo, somos todos suicidas sem coragem, sendo mais simples matar o outro? Já temos tão pouco tempo para a vida, e ainda precisamos abreviar? Estranho paradoxo é o homem, que busca a longevidade e, ao mesmo tempo, maneiras mais arrojadas de destruição em massa.

De poeta e louco, todos têm um pouco.
Onde foi que eu errei?

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