Ó Insensato Coração
Rosa Pena – Rio de Janeiro/RJ
Eu sou uma romântica terminal que não acredita que o tempo transforme o amor em amizade. Eu devo estar desenganada pelos médicos por teimar que carinho gera carinho. "To Sir, With Love".
Eu virei velha porque repito uma história, mas eu era nova quando minha filha me fazia contar a mesma história mil vezes. Fico triste com quem tem a língua afiada que corta sua própria boca e fala palavras que rufam como tambores na minha cabeça. Gosto de quem fala em blues. Miles Davis - Kind of Blue!
Estou sendo persuadida a tomar Rivotril para acalmar minha loucura, pois vejo agressividade em quem espeta meu coração com os alfinetes do silêncio rancoroso, com o deboche no olhar, com a soberania da verdade, com cinismo a minha alegria nata. Pastéis de Belém!
Adoro ouvir Gal cantando Baby, especificamente o verso " você precisa saber de mim", pois isso iguala minha solidão a dela. Sou obsessiva por chicletes Trident, beijos no rosto, na boca, no nariz. Sou compulsiva por cinema. Quando é nacional sou viciada no Selton Mello.
Amo amar. Adoro fazer carinho no silêncio da noite e em pleno Cirque du Soleil! Jamais coloco conjunção adversativa na paixão, mas abuso da interjeição. Brinco com quem está baixo astral e não dou força para ninguém amarrar uma pedra no pescoço e se jogar no rio Ganges.
Considero uma puta sacanagem arrumar culpados quando algo deu errado. Acho saudável mudar de ideia, pois só não muda quem não as tem. Odeio quem é muito afeito a conclusões definitivas, como também considero perverso quem reabre casos e feridas sem o menor pudor de machucar novamente os envolvidos.
Adoro a cara de louco do Jack Nicholson e do Woody Allen. Odeio o jeito de bonzinho que todo safado adquire na velhice fingindo que nunca tocou uma punheta quando até trem roubou! Ronald Biggs está dodói!
Amo meus amigos que me amam sem cobrança. Viva a Magdala! Queria ser a Juliette Binoche andando de bike com Johnny Depp ouvindo As Time Goes By e comendo chocolate.
Adoraria ser adolescente dos anos 60 e gritar Peace & Love em Woodstock, mesmo sabendo que nunca haveria paz e amor no planeta Merda. Gripe suína da vaca louca junto com a galinha estressada.
Imagino um filme com um serial killer ratofóbico matando todos os políticos e deixando um crustáceo tatuado na testa dos mortos. O Sarney marcado com uma Lula vale no mínimo dez orgasmos.
Quem dera que nicotina não fosse veneno e que guitarras estridentes paralisassem a gente aos 18 anos. Viver a vida toda com essa idade onde o maior problema é espinha no nariz. Minancora!
Amo os vira-latas. Sou um deles, pena que me puseram coleira e me vacinaram contra raiva. Que ódio! Agora sou obrigada a sentar, deitar, dormir, dar a patinha (quando quero dar patada) de acordo com as ordens de meus donos. Ai de mim se mijar fora do lugar.
Venero a lua e o sol. Mas a lua só em casa senão sou morta por um traficante criado pelo legislativo. O sol só de longe com um filtro fator broxante 88. Sardinha em lata!
Não gosto de mistérios nem em literatura. Odiei o Código Da Vinci, mas sei que qualquer hora dessas mergulharei no desconhecido.
Talvez a morte me observe de esguelha com um sorriso nos lábios dizendo para si mesma: -Quando é que essa imbecil vai se tocar da sua não eternidade?
Vontade eu tenho de ainda voltar ao Louvre, registrar em testamento que odeio cinismo, brincadeiras que deixam pessoas constrangidas, injustiças e qualquer tipo de humilhação. No mais em mim sempre prevaleceu o amor. Flores e sax no meu final. New Orleans.
Gostaria de fazer as pazes com o meu coração antes dele parar. Desligar lúcida o meu cérebro pelo menos por um dia e me deixar levar. "Deixa a vida me levar, vida leva eu”.
Quem sabe assim algum amor me encontrasse e não se incomodasse com minha repetição. Eu repito demais o que não gosto, pois banaliza e repito muito mais ainda o que gosto, para brindar meus ouvidos. Quantas vezes repeti aqui a palavra amor? Só louco amou como eu amei.
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domingo, 23 de agosto de 2009
Ó Insensato Coração - Rosa Pena – Rio de Janeiro/RJ
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